O que eu era quando cantava?
Quando de meus lábios doce som brotava?
O que eram os meus dias senão notas,
suaves notas de uma linda melodia?
Mas o som estanque hoje me sufoca,
não é som que não produza nota,
não é som que não te faça quente,
não é um som audiente,
não é um som, é um dente.
É um pedaço de um sorriso
e um pedaço de algo vivido,
é uma meia voz,
um meio tempo,
um som volátil
fugaz e lento;
que pouco se empenha em soar,
que ao soar soa baixo,
soa pouco, abafado pelo medo...
Que sou eu agora que canto?
O que meu canto atinge, se finge?
O que meu canto ganha, se frustrado tinge
o dia a dia de notas sem encanto?
E, por fim,
como será o meu canto,
quando se for o medo,
a frustração, o apego,
que embargando a voz
fazem de mim silêncio?
Qual será a voz que ouvirei por dentro?