quarta-feira, 28 de maio de 2014

Alento










Por quê?
Pra quê?
Por onde?
Perguntas voltadas pra dentro.
Perguntas largadas ao vento.
Respostas buscadas a tempo.
A tempo?
Foi a tempo de não perder-se?
Foi a tempo de que se guardasse?
Alento.
Não foi a tempo, mas foi momento...
momento de perder-se e de guardar-se,
momento de prender o passo e se voltar pra dentro,
momento de se achar despida e se vestir a tempo!

domingo, 12 de janeiro de 2014

Meu Canto






                              O que eu era quando cantava?
                              Quando de meus lábios doce som brotava?
                              O que eram os meus dias senão notas,
                              suaves notas de uma linda melodia?

                              Mas o som estanque hoje me sufoca,
                              não é som que não produza nota,
                              não é som que não te faça quente,
                              não é um som audiente,
                              não é um som, é um dente.
                              É um pedaço de um sorriso
                              e um pedaço de algo vivido, 
                              é uma meia voz,
                              um meio tempo,
                              um som volátil
                              fugaz e lento;
                              que pouco se empenha em soar,
                              que ao soar soa baixo,
                              soa pouco, abafado pelo medo...

                              Que sou eu agora que canto?
                              O que meu canto atinge, se finge?
                              O que meu canto ganha, se frustrado tinge
                              o dia a dia de notas sem encanto?

                              E, por fim,
                              como será o meu canto,
                              quando se for o medo,
                              a frustração, o apego,
                              que embargando a voz
                              fazem de mim silêncio?
                              Qual será a voz que ouvirei por dentro?



sábado, 4 de janeiro de 2014

Auto ajuda



Não sei se quero me pousar sozinha
sobre as ondas do pensamento
tão violentas e vorazes
que já levaram muitos homens à loucura 
e muitos à sanidade.
Que descobrirei nessa tormenta?
Achar-me-ei e me salvarei?
Ou me acharei tão feia e tão suja
que decidirei afogar a mim mesma?
Tantos anos respirando pra salvar-me;
como um náufrago desesperado
afundei os salva-vidas que vieram resgatar-me.
Nem sei se quero salvar-me, não sei se posso...

Às vezes eu mesma





Dissuadida de tentar
cansada de lutar
cedeu
cedeu perdida entre os espinhos
os espinhos do prazer
a prisão do saber
entre sonhos e desilusões
perdeu-se
louca
pálida
simples
adormecida
mordida
picada
tratada
vazada
cansada
puta.
Perdeu-se dos seus pais, dos seus passos,
Que passos?
São seus?
Voltou, olhou, pensou, agiu
mas nem sempre
às vezes livre, às vezes presa
às vezes simplesmente ilesa,
às vezes solta, às vezes tesa,
às vezes eu, às vezes eu mesma.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O mundo





Mundo sem fundo,
mundo mudo, mundo doido,
o mundo reclama,
mas quem reclama?
o mundo inteiro - quem são?
são dois? são três?
quem é o mundo inteiro, a maioria?
que reclama, certamente pode ser.
mas quem faz algo?
quem resiste?
quem de fato age?
quem de fato luta?

O nosso mundo é um mundo findo,
é um mundo lindo,
e um mundo tolo,
mas quem é o mundo?
o mundo inteiro - quem é?
quem é que de fato fala?
quem é que de fato sente?
quem não olha pro Seu umbigo?
quem não pensa no Seu salário?
quem não se conforma com seu trabalho?
quem é que vive?

O mundo... que mundo?
que é mundo?
que é vida?
quem não se perde?
quem de fato se achou?
que a vida é luta, quem sabe?
quem conhece a verdade?
quem cresceu de verdade?
quem viveu de verdade?

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sonhos





Se tantas vezes quantas quiserdes ser,
forem também as vezes que tentais,
mesmo que infortunadamente, ser o que quiserdes;
deveis então considerar-vos o primor da vida.

Pois tantos seres entrecruzam-se no ciclo da vida
uns inlevados e outros nem tanto; no entanto todos
no fulgor da vida olham-se, pensam-se, movem-se.
Podem ao passar dos anos
perder a juventude que vos alimenta, da mudança, o fogo,
perder a força que suporta o julgo,
mas não perdem a visão do que não foram,
não perdem a visão dos sonhos;
incertos, modernos,
funestos, vívidos,
audaciosos sonhos que sonham sem viver;
sonhos daqueles que ao contrário de vós
são réstias de luz que outrora iluminaram mentes
que outrora motivaram turbas,
ao contrário de vós que lutais em dia,
que tendes espasmos de prazer e luta.

Se tantas vezes quantas quiseram ser,
essas fossem as vezes que tentassem,
mesmo tendo o infortúnio, ser o que quiseram;
poderiam então considerar-se o primor da vida.